Posted by andrewschaefer on Nov 10, 2017 23:28:01 GMT -2
Kerli, a artista estoniana que recentemente vem conquistando a todos com sua música exótica e sombria, finalmente fez sua primeira aparição na televisão após o lançamento de seu primeiro álbum, o chamado Deepest Roots.
Um álbum inteiro para sua nação, haja amor! De maneira enigmática, a cantora conta a história de seu povo, o quanto foi preciso de coragem, força, resistência e superação para passar tantos anos sofrendo na mão de outros países, mesmo sendo uma das nações mais antigas a habitar o mundo.
A estoniana fez-se presente no programa televisivo americano The Ellen DeGeneres Show, apresentado pela própria Ellen DeGeneres. Kerli, algumas vezes, por redes sociais, demonstrou sua admiração por Ellen, compartilhando vídeos da mesma com legendas que explicitavam isso. Ellen, durante a entrevista que fez com Kerli também revelou que possuía uma grande admiração pela artista e pela sua arte.
Durante a entrevista, Kerli teve um desabafo. A artista falou o lado sombrio da indústria fonográfica, falou sobre críticas que haviam contra ela, e, ainda, sobre fama e reconhecimento. Por estar ao lado de uma das mulheres que ela mais admirava, é provável que a voz de Blossom, Diamond Hard, Feral Hearts, e outras várias músicas, se sentiu mais confiante e aberta a falar dos problemas vivenciados pela mesma. Confira a emocionante entrevista, feita no dia 08/10:
ED: Esta noite temos conosco uma grande voz reconhecida mundialmente. Ela veio do pequeno país banhado pelo Mar Báltico, Estônia. Revolucionando a indústria musical, ela mostrou um novo jeito de fazer música. Ela recentemente lançou seu primeiro álbum de estúdio, e desde então estávamos loucos para chamá-la aqui. Por favor, recebem a fantástica Kerli!
*Calorosos aplausos ecoaram pelo local enquanto Kerli entrava com um grande sorriso no rosto e acenava para a plateia agradecendo pelas palmas. Kerli se sentou ao lado de Ellen e agradeceu por estar ali*
K: Olá! (risos)
ED: Kerli! Finalmente está aqui!
K: (risos) Sempre quis vir a este programa! Estou muito feliz que fui convidada!
ED: E você é uma das pessoas que eu sempre quis entrevistar. Então... Por onde começamos? Como você está?
K: Bem... (risos) E você?
ED: Eu estou ótima! (risos)
*Kerli e Ellen apertam as mãos*
ED: Então, no dia 5 de agosto você lançou o Deepest Roots, que é simplesmente fantástico.
*Ellen pega uma cópia do álbum e mostra para a câmera, então o abre e mostra o CD e o encarte de pouco a pouco enquanto as duas continuam conversando*
K: Sim, o Deepest Roots. Foi muito importante para mim.
ED: É o seu primeiro álbum, pode nos dizer como foi a experiência?
K: Eu gostei muito. Pude trabalhar com ótimos produtores, quero destacar Brian Ziff, Lester Mendez, Ago Teppand e Mitchell Leib. Sem eles, o álbum não existiria. (faz um coração para a câmera) Foi uma experiência inesquecível, eu sempre gostei de fazer música, mas poder lançar isso para que todo o mundo ouça... Eu não tenho palavras.
ED: Pelo que podemos entender através das letras é que tem uma mensagem muito profunda, não é?
K: Sim, através das músicas, eu pude contar um pouco da história da Estônia, mas de maneira indireta.
ED: Pode falar um pouco mais?
K: Bem, alguns historiadores acreditam que a Estônia havia sido primeiramente povoada há 10000 anos, após o degelo do Mar Báltico. Outros acreditam que foi há 5000 anos. De qualquer forma, os estonianos conseguem ser um dos povos mais antigos a terem habitado a Europa e o mundo. Infelizmente a Estônia passou por maus bocados durante a sua história, sendo colonizada por vários países, como a Dinamarca, a Suécia, a Alemanha, e por último a Rússia. A Estônia também foi uma das nações mais resistentes às medidas da Igreja Católica. Até 1991, a Estônia ainda vivia sob domínio russo, mas nesse mesmo ano, finalmente, conquistamos a independência total.
ED: É uma história realmente sofrida para todo o povo estoniano.
K: Após muito tempo de pesquisa e reflexão, eu pude ver como o meu povo era forte. Durante todos esses anos lutando pela liberdade fora exigido muito esforço, muita resistência, muita força de vontade. Mas conseguimos superar tudo isso, apesar das tantas dificuldades. E é essa exatamente a mensagem que eu quero passar. Eu não simplesmente coloquei esses elementos, mas eu arrumei um jeito de contar tudo isso relacionando com a rica cultura da Estônia, o amor pelas florestas, pela natureza, o amor e compaixão para uns com os outros, e, claro, o nosso folclore que também é muito rico.
ED: Kerli, você é incrível.
*Aplausos*
K: (risos) Obrigada, mas você é incrível!
ED: Garota, eu estou falando sério! Eu já amava suas letras, sua voz, toda a sua música, toda a sua arte, e, agora, você me fez te amar ainda mais. Se existe alguém que não goste de sua música é perfeitamente normal, mas se existe alguém que não goste da pessoa que você é, essa é uma pessoa ruim. Porque, Kerli, você é tão incrivelmente boa, cheia de boas vibrações e energias positivas, é impossível não ficar encantado com toda a magia que você emite através de suas canções. Esperamos que nunca pare de fazer música, você é muito incrível.
*Longos aplausos vindos da plateia*
K: (risos) Eu só estou fazendo o que eu gosto de fazer... Mas a verdade é que nem tudo é um mar de rosas...
ED: O que quer dizer com isso?
K: Eu já recebi diversas críticas, não só sobre a minha música, mas sobre o meu jeito de ser. Sinceramente, isso muitas vezes me deixa triste.
ED: Não acredito que possam ter pessoas neste nível.
K: Bem... Existem. Uma vez recebi uma mensagem privada via Facebook que dizia algo do tipo: “Para de ser tão legal, isso soa falso”. Esta foi uma das mensagens que mais me fez pensar. Eu sempre estou me esforçando para trazer o amor entre as pessoas e alguns ainda acham que isso parece ser falso, quando eu não sou esse tipo de pessoa.
ED: Kerli, me escute. Você não deve ligar para pessoas desse tipo, você é maior que tudo isso.
K: Eu concordo que ninguém seja obrigado a gostar de ninguém, mas tem uma coisa das poucas que minha mãe me disse quando eu era criança e que eu guardo comigo até hoje. Se você tiver algo ruim para falar de alguém, escolha o melhor momento e a melhor maneira. O amigo não é aquele que te omite seus defeitos e também não é aquele que te magoa jogando eles na sua cara. O amigo é aquele que te diz teus defeitos procurando que você melhore como pessoa. E eu me considero amiga de não só todos os Moonchildren, mas de todas as pessoas, pois eu acredito fortemente que somos todos iguais não importando classe social, etnia ou religião, já que todos temos o mesmo destino: a morte. Em vez de vivermos em competição e euforia entre nós mesmos, deveríamos nos abraçar e nos amar, pois nós somos humanos, somos seres racionais, mas parece que não estamos agindo como.
ED: Tudo isso que você disse tem um significado muito forte, sabia? Eu concordo totalmente com você. A morte é a única certeza que temos na vida e nossa passagem na Terra se limita a cerca de 100 anos. Nós morremos, outras pessoas continuam, a Terra continua, o universo continua. Podíamos gastar nosso tempo de vida fazendo boas ações e amando ao próximo em vez de continuar julgando e magoando.
*Aplausos*
ED: Mas, Kerli, você está fazendo o seu melhor para atingir seus objetivos de amor entre todos, você não pode esperar que todos correspondam. Infelizmente, acredito que nem todos tenham o mesmo pensamento.
K: Isso o que você disse também é muito significativo. Existem muitas pessoas que gastam seu tempo enquanto vivas pra prejudicar e magoar os outros. Eu mesma já sofri muito com isso.
ED: Gostaria de nos contar a respeito?
K: Bem, muito antes de eu assinar contrato com a Utopia Records e muito antes de eu passar nove meses na floresta em plena reflexão pessoal, eu havia passado por um produtor musical que prometeu me dar várias conquistas neste mundo da indústria fonográfica. Eu era jovem e ingênua, aceitei o contrato sem pestanejar, mas eu desisti logo quando percebi que aquilo não era nada do que eu imaginava. Eu mostrei algumas das composições que eu já havia feito, mas ele não aceitou. Ele me deu uma outra música com muitas palavras obscenas e falavam coisas que não tinham nada a ver comigo.
ED: Que horror!
K: Sim... Meus pais já estavam contrariados por eu ter largado os estudos para me dedicar a música, se me vissem cantando esse tipo de coisa, seria o fim! O produtor me falou que as minhas composições não trariam dinheiro e que era aquilo que estava em moda na época. Ainda hesitante, eu cheguei a gravar a música, mas ficou simplesmente horrível. Eu não havia colocado minha alma nem um pouco naquilo, estava cantando sem vontade, sem emoção.
ED: Mas não chegou a ser lançada, não é? Não lembro de nenhum trabalho seu anterior a Diamond Hard.
K: Não, eu o processei antes. Ele queria gravar um clipe para aquela música obscena comigo. E pra isso ele pediu que eu colocasse silicone nos seios e nos glúteos, mas no contrato que eu havia assinado não estava escrito nada sobre eu ter que me submeter a tais coisas, e eu me recusei, claro. Quando tive uma reunião com ele pra falar sobre, ele tentou abusar de mim, colocou a mão por baixo da minha saia. Eu saí dali o mais rápido possível e o denunciei. Bem, eu acho que nunca havia contado isso para tantas pessoas assim...
ED: Eu sinto muito, deve ter sido traumatizante.
K: Sim, foi uma experiência muito traumatizante. Eu queria mostrar que a indústria fonográfica também pode ter esse lado sombrio. Muitas jovens, às vezes, sonham em ser cantoras famosas, e acham que vai ser tudo uma maravilha. Mas, infelizmente, existe esse lado obscuro da indústria musical que deveria ser mostrado e denunciado por todos. Tomem muito cuidado. O mesmo homem que te promete muitas conquistas como cantora, também pode ser aquele que vai te abusar sexualmente como pagamento, então tomem muito cuidado!
ED: Eu entendo. Não é só na indústria da música que as coisas são assim, mas também com as modelos e até atores. Tudo tem esse lado sombrio.
K: Você quer saber o que fiz depois de superar todo o trauma?
ED: O que?
K: Eu peguei as minhas composições, fui as aperfeiçoando e mandei pra a Utopia Records, eles me acolheram e nunca fizeram nada que fosse motivo de denúncia. É uma das poucas gravadoras, eu acredito, que respeitam o que o próprio artista quer, não visando apenas lucro e comércio. Eles aceitaram as minhas composições e acredito que cantando o que eu quero, cantando aquilo que vem da minha alma, eu me sinto mais feliz e o som sai muito melhor.
ED: Que bom que você encontrou algum lugar que acolhessem o seu estilo diferenciado de fazer música!
K: É, eu também fiquei muito feliz. Eu sabia que minhas músicas não eram tão comerciais. Não era nenhum pop extravagante, nenhum rap contagiante, nenhum rock pesado. Era simplesmente minha música. A grande verdade é que eu amo escrever minhas músicas, cantá-las, produzi-las, gravar os clipes. Infelizmente, na indústria musical para que um artista continue fazendo isso é preciso cobrar. Eu sei que se eu liberar um download grátis para minhas canções, não conseguirei arrecadar dinheiro para fazer novas músicas e eu realmente amo de coração fazer música e não quero parar e esse é o único motivo pelo qual eu cobro pelas músicas.
ED: Entendo.
K: Eu não me importo com dinheiro, nem com bens materiais em si. É tudo passageiro. Eu também não me importo com fama ou reconhecimento.
ED: Mesmo você sendo listada como uma das dez cantoras mais famosas no mundo atualmente?
K: Sim. Eu não me importo muito com isso... Eu gosto de ser eu mesma. Quando eu estou na minha casa em Elva, ou em Tallinn, ou até mesmo nas florestas da Estônia, eu gosto de ser uma pessoa normal, sair com os amigos nos finais de semana, trabalhar nos demais dias. Sabe, às vezes eu ajudo minha mãe em uma loja de artigos diversos que ela tem. A fama é consequência do trabalho de divulgação de músicas. Quanto mais pessoas tem acesso ao meu material, mais famosa eu fico. Mas não é do meu interesse ser reconhecida.
ED: Você é um verdadeiro exemplo a ser seguido. Sem ganâncias ou ambições, você é incrível, eu já te admirava, mas acho que depois dessa entrevista eu vou te admirar três vezes mais!
K: (risos) Obrigada...
ED: Podemos falar sobre seu último show no Tidal X no dia 14 de agosto?
K: É claro!
ED: Pode nos explicar aquele cenário? Velas, fumaças, luzes?
*Algumas cenas do show de Kerli no Tidal X são mostradas enquanto elas continuam conversando*
K: As velas, as fumaças, as luzes, tudo fora planejado... (risos) Eu queria dar um toque sombrio, enigmático, mas ao mesmo tempo acolhedor ao palco. Através desses elementos, era mais fácil prender a atenção da plateia para o que realmente estava acontecendo ali. Todos os elementos se misturavam e me conduziam, como se eu fosse parte da fumaça, sendo iluminada pelas luzes no meio das velas. Muitas vezes eu dançava juntamente da fumaça, deixando ela me levar... Foi muito interessante.
ED: Eu gostei bastante. Realmente é uma daquelas coisas que você assiste e seu cérebro só consegue pensar em uma coisa: “Uau, que perfeição”. Você é tão talentosa e criativa! Podemos ver isso através de seus clipes também.
*Algumas cenas de Blossom, Diamond Hard e Feral Hearts são mostradas enquanto elas continuam conversando*
K: Sim, tudo tem um significado especial para mim. Cada detalhe, cada item usado, cada coisa no cenário, as roupas, a maquiagem, o cabelo, é tudo muito importante. Um clipe não é só feito de roupas bonitas e cabelo arrumado, acredito que existam muitos outros elementos que fazem um clipe e eu tento explorar muito bem cada um desses elementos, dando atenção aos pequenos detalhes por mais simples que sejam. Algumas pessoas ficaram impressionadas em como deu trabalho fazer as unhas da personagem Näkk, do clipe de Feral Hearts.
ED: O resultado é sempre incrível. Você é fantástica, uma das melhores artistas que eu já conheci e está sendo um imenso prazer te entrevistar!
K: (risos) Obrigada... Também está sendo muito bom pra mim poder vir aqui e conversar com você, falar algumas coisas que eu já queria falar há um tempo. Acredito que uma oportunidade tão incrível quanto essa não terei de novo por um bom tempo.
ED: (risos) Você pode nos dizer um pouco mais sobre o seu último single, Blossom?
K: Especificamente, a música é dedicada para seis plantas: a losna, a chamerion, a urtiga, a malva, a filipêndula e um verbasco chamado Verbascum thapsus. Durante anos de história, os estonianos viveram em harmonia com o rico reino vegetal. Essas plantas têm propriedades medicinais, então muitos usavam-nas para se curar de doenças, e, assim, poder seguir em frente. É uma música que fala sobre superação, mas de maneira subjetiva. Se vocês perceberem, muitos dos adjetivos e verbos usados dão a impressão de que a música foi escrita por uma planta, a história de superação de uma planta, quando na verdade, é somente uma comparação entre as plantas e nós mesmos, já que nós também podemos superar tudo, prosperar em meio a dificuldades, assim como as plantas que muitas vezes precisam enfrentar pragas, insetos, períodos sem chuva. Sorte que os estonianos sempre estavam lá para cuidar delas. É uma das minhas músicas preferidas do álbum e eu recebi muitos comentários positivos a cerca dela, mesmo que ela não seja a mais conhecida.
ED: Pode nos dizer sobre esses comentários positivos?
K: Um garoto me mandou uma mensagem, disse que estava com depressão há alguns meses e que estava pensando em tirar a própria vida há algum tempo. Mas, segundo seu relato, após ver o clipe e ouvir a música, todos os pensamentos se afastaram e ele disse que sentiu a força de continuar lutando para superar tudo isso. Ele me disse que minha música o fez ver a luz no fim do túnel e que eu havia acendido a chama da esperança que estava apagada em seu coração. Fiquei muito feliz e o respondi imediatamente, nós até trocamos duas ou três mensagens, eu o aconselhei e demonstrei que fiquei feliz por ter ajudado com simplesmente uma música.
ED: Eu tenho certeza de que ele não foi o único que se sentiu assim. Eu posso dizer que Blossom me fez refletir sobre a minha vida também. Sua música dá esperança para as pessoas, basta prestar atenção na letra e com um clipe daqueles... Eu tenho a honra de dizer... Kerli, eu te venero!
K: (risos) Ah, muito obrigada! Mas eu já disse que eu só faço o que gosto...
ED: Eu espero de coração que você seja muito bem recompensada por tudo de bom que você faz. Você é um anjo! Eu te amo, nós te amamos pela pessoa incrível que você é. Por favor, nunca pare de seguir seus sonhos, nunca pare de fazer música, nunca pare de ser essa pessoa maravilhosa que você é com tantas ideologias revolucionárias de amor e paz mundial, que é o que está faltando nos corações das pessoas nos dias de hoje.
K: (risos) Obrigada novamente...
ED: Muito obrigada por ter vindo, por ter participado do nosso programa, por ser tão atenciosa e ser tão fantástica. Esperamos ver você aqui outras vezes.
K: Também espero voltar aqui outras vezes.
ED: Pra finalizar, você podia cantar pra gente?
K: Claro.
*O palco se escurece, Kerli vai até o centro e agarra um microfone preso em um tripé, o instrumental de Blossom começa e logo ela começa a cantar também. Em seguida, Kerli se despede da plateia e de Ellen e sai do palco*
ED: Relembrando... (ela pega o Deepest Roots novamente) Esse é o Deepest Roots, o novo álbum da Kerli que está muito bom e eu recomendo a todos que adquiram essa obra-prima! Não vão se arrepender se quiserem ter suas vidas iluminadas pelo anjo que a Kerli é. Até mais, e uma boa noite!